O acordo entre Serengeti e Forte Futebol, que acaba de ser anunciado por dirigentes dos 26 clubes que compõem o bloco, é a notícia mais importante dos últimos meses para a fundação da liga de clubes do Brasil. De enorme repercussão. Mas não pelos motivos aparentes.
É natural que se dê muita atenção aos grandes números da negociação: R$ 4,85 bilhões em troca de 20% da liga de clubes por um período de 50 anos. Porém, de imediato, o que importa para a disputa entre cartolas, nos bastidores, está noutro trecho do contrato.
Neste acordo – que ainda precisará da validação dos órgãos deliberativos dos clubes, etapa que os dirigentes consideram relativamente fácil de cumprir –, a Serengeti se comprometeu a fazer um pagamento antecipado de R$ 350 mil para cada clube.
No total, portanto, trata-se do repasse de R$ 9 milhões para comprar um assento à mesa.O detalhe não foi comunicado pelo Forte Futebol no anúncio do acordo, mas está descrito na prévia do contrato, à qual o ge teve acesso na semana passada, e foi confirmado por dirigentes à reportagem. O pagamento é considerado um "gesto de boa vontade" por parte da investidora. Na realidade, vai muito além. Esta é uma peça-chave.
Recapitulando: a criação da liga está travada desde que houve um racha entre dirigentes. De um lado, a Libra reuniu os clubes de maior torcida. Do outro, o Forte Futebol tem alguns considerados grandes e uma série de equipes que sobem e descem da Série A com frequência.
A estratégia da Libra para minar o outro lado era a negociação individual, na tentativa de puxar indecisos para o seu bloco. Foi assim que, em dezembro, o Sampaio Corrêa tomou a decisão de deixar o Forte Futebol para unir forças aos clubes de massa. Outros poderiam sair.
O pagamento antecipado da Serengeti tem como prerrogativa travar o grupo. Se um dos 26 integrantes hoje mudar de ideia e quiser trocar de lado, precisará devolver os R$ 350 mil à investidora americana e se sujeitar às cláusulas de saída do contrato. A ideia é demonstrar unidade.
Do ponto de vista da investidora e também das empresas que vêm trabalhando na intermediação do negócio – Alvarez & Marsal, LiveMode e XP Investimentos –, a assinatura deste pré-acordo tem outras finalidades.
A Libra baseou sua estratégia para a união dos clubes, desde que o projeto da liga foi concebido, na venda de uma participação do negócio para um investidor. Com a condução das empresas Codajas Sports Kapital e BTG, foi feita uma espécie de licitação, na qual a oferta da empresa árabe Mubadala foi escolhida por dirigentes e executivos.
O Forte Futebol abriu a sua própria concorrência, que desembocou na escolha da Serengeti, como uma resposta a esse movimento. Algo como dizer: "se eles querem convencer dirigentes a aderir ao bloco deles com dinheiro, nós também temos dinheiro para oferecer, inclusive para já".
A assinatura do acordo com a Serengeti não só melhora as condições do Forte Futebol para a negociação, do que quer que seja, mas também cria um ativo tangível, uma precificação de seus clubes. Eles agora "valem" R$ 4,85 bilhões, respaldados pela oferta do fundo americano. Há divergências do outro lado em relação a ela, mas este é o raciocínio.
O que pode acontecer daqui em diante? No cenário abertamente indesejado por todas as partes, o futebol poderia ter o Campeonato Brasileiro organizado pela CBF, como já é, porém com direitos de transmissão negociados coletivamente por dois blocos distintos, Libra e Forte Futebol. Além disso, um vende parte do negócio para o Mubadala, o outro, para a Serengeti. Desfecho tido como negativo, mas possível.
Outro cenário é o da conciliação, que se torna mais complexo a partir da assinatura deste acordo. Antes, era possível que dirigentes de um bloco migrassem de lado, formassem maioria e "vencessem" a disputa contra o outro. Agora que a Serengeti comprou um ativo do Forte Futebol, ela também participará da discussão e precisará ser convencida.
Convencida a quê? Se for pela divisão desses direitos entre Mubadala e Serengeti, numa liga com 40 clubes, será necessário chegar a um denominador que agrade a árabes e americanos. Se for pela saída da Serengeti, pois bem, ela precisará ser compensada financeiramente.
Os próprios assessores firmaram suas posições nesse jogo. Tratando-se de uma negociação avaliada em bilhões de reais, comissões, mesmo que em percentuais baixos, equivalem a centenas de milhões. Agora que há documentos assinados em ambos os lados, fica mais fácil para todas as empresas citadas neste texto a busca pela comissão pela intermediação.
Disputas extracampo já não se resolvem mais apenas entre cartolas, como num passado não muito distante do futebol brasileiro. Intermediários e fundos de investimento estrangeiros assumiram posições de protagonismo neste jogo. Ainda não se sabe quem prevalecerá, neste caso singular, do duelo entre Forte Futebol e Libra.
Recapitulando: a criação da liga está travada desde que houve um racha entre dirigentes. De um lado, a Libra reuniu os clubes de maior torcida. Do outro, o Forte Futebol tem alguns considerados grandes e uma série de equipes que sobem e descem da Série A com frequência.
A estratégia da Libra para minar o outro lado era a negociação individual, na tentativa de puxar indecisos para o seu bloco. Foi assim que, em dezembro, o Sampaio Corrêa tomou a decisão de deixar o Forte Futebol para unir forças aos clubes de massa. Outros poderiam sair.
O pagamento antecipado da Serengeti tem como prerrogativa travar o grupo. Se um dos 26 integrantes hoje mudar de ideia e quiser trocar de lado, precisará devolver os R$ 350 mil à investidora americana e se sujeitar às cláusulas de saída do contrato. A ideia é demonstrar unidade.
Do ponto de vista da investidora e também das empresas que vêm trabalhando na intermediação do negócio – Alvarez & Marsal, LiveMode e XP Investimentos –, a assinatura deste pré-acordo tem outras finalidades.
A Libra baseou sua estratégia para a união dos clubes, desde que o projeto da liga foi concebido, na venda de uma participação do negócio para um investidor. Com a condução das empresas Codajas Sports Kapital e BTG, foi feita uma espécie de licitação, na qual a oferta da empresa árabe Mubadala foi escolhida por dirigentes e executivos.
O Forte Futebol abriu a sua própria concorrência, que desembocou na escolha da Serengeti, como uma resposta a esse movimento. Algo como dizer: "se eles querem convencer dirigentes a aderir ao bloco deles com dinheiro, nós também temos dinheiro para oferecer, inclusive para já".
A assinatura do acordo com a Serengeti não só melhora as condições do Forte Futebol para a negociação, do que quer que seja, mas também cria um ativo tangível, uma precificação de seus clubes. Eles agora "valem" R$ 4,85 bilhões, respaldados pela oferta do fundo americano. Há divergências do outro lado em relação a ela, mas este é o raciocínio.
O que pode acontecer daqui em diante? No cenário abertamente indesejado por todas as partes, o futebol poderia ter o Campeonato Brasileiro organizado pela CBF, como já é, porém com direitos de transmissão negociados coletivamente por dois blocos distintos, Libra e Forte Futebol. Além disso, um vende parte do negócio para o Mubadala, o outro, para a Serengeti. Desfecho tido como negativo, mas possível.
Outro cenário é o da conciliação, que se torna mais complexo a partir da assinatura deste acordo. Antes, era possível que dirigentes de um bloco migrassem de lado, formassem maioria e "vencessem" a disputa contra o outro. Agora que a Serengeti comprou um ativo do Forte Futebol, ela também participará da discussão e precisará ser convencida.
Convencida a quê? Se for pela divisão desses direitos entre Mubadala e Serengeti, numa liga com 40 clubes, será necessário chegar a um denominador que agrade a árabes e americanos. Se for pela saída da Serengeti, pois bem, ela precisará ser compensada financeiramente.
Os próprios assessores firmaram suas posições nesse jogo. Tratando-se de uma negociação avaliada em bilhões de reais, comissões, mesmo que em percentuais baixos, equivalem a centenas de milhões. Agora que há documentos assinados em ambos os lados, fica mais fácil para todas as empresas citadas neste texto a busca pela comissão pela intermediação.
Disputas extracampo já não se resolvem mais apenas entre cartolas, como num passado não muito distante do futebol brasileiro. Intermediários e fundos de investimento estrangeiros assumiram posições de protagonismo neste jogo. Ainda não se sabe quem prevalecerá, neste caso singular, do duelo entre Forte Futebol e Libra.
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